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Embarquei numa pequena aventura na tarde da sexta-feira (20/02/2015).
Fui conhecer a Velha Grande com o Adrianão. O rolezinho durou uma tarde inteira, indo das 14h às 17h30min.
Foi sociologicamente interessante ver como age um político em território tão inóspito, entrando em picadões por um lado para sair pelo outro, quase sempre subindo morros de ruas estreitas de chão batido e pedregulhos onde passa um carro de cada vez.
Adrianão deveria comprar um jipão.
Naranjilla
Estive na casa do Adriano no final da tarde, uma casinha pequena, muito bem cuidada, que ele mesmo construiu e foi emendando aos poucos a partir de uma meia-água.
Nos fundos da casa há uma simpática varanda e uma rede.
A casa é fortemente vigiada por dois guapecas.
A mulher dele mantém tudo muito limpo e os dois filhos, acho que com idade entre 10 e 11 anos, são extremamente educados. Quando tomávamos café ofereci biscoitos a um deles: “Só podemos pegar depois que a visita acabar”.
É a mesma educação que recebi em casa.
Meu pai só nos deixava comer depois de a visita sair da cozinha e ir pra sala.
Experimentei um suco de naranjilla, uma fruta equatoriana que ele cultiva em casa. Ela parece uma pequena laranja e o suco é muito bom. Dizem que tem muitas propriedades curativas.
Como meu cabelo não cresceu depois que saí de lá, creio que a calvície não está entre os males que ela cura.
Celular
Quando passamos em frente ao CAIC da Velha, tinha uns técnicos testando uma antena móvel da OI.
Na volta, Adrianão parou e conseguiu fazer sua primeira ligação de celular da rua Hermann Kratz. Foi um momento histórico.
Em frente a uma plantação de eucaliptos, Adrianão lembrou que precisava falar com o dono para conseguir duas toras: o pontilhão em frente à casa de uma moradora, dentro de seu terreno, havia sido destruído pela chuva e ele tinha sugerido a colocação das toras para que ela pudesse atravessar em sua cadeira de rodas depois de cobertas com tábuas. “A gente vai improvisando as coisas como dá”.
Ao chegar em casa, recebeu um recado da mulher: uma pessoa havia ligado dizendo que as toras de eucalipto deveriam ter quatro metros de comprimento. “Tenho que ver isso na semana que vem”.
E assim segue a vida na Velha Grande.
Eis o relatório analítico:
- Conheço a cidade toda, mas nunca tinha ido na Velha Grande.O negócio é grande mesmo.Terrenos inóspitos. Morros de um lado da estrada, grotões do outro.Um processo de urbanização difícil e complicado.
- Adrianão me levou pra conhecer algumas das famosas ruas de placa amarela, que são ruas clandestinas, que não pagam IPTU e a prefeitura não faz obras, mas têm energia elétrica.Mesmo assim a turma sempre dá um jeito.Na Osni Rosa, assim como algumas outras, o povo se uniu e pavimentou com concreto por conta própria.
- Na rua Reinoldo Gutz, uma pirambeira de acesso difícil, podem ser vistas duas carcaças de carros atingidos pela tragédia de 2008.Num deles tinha um simpático guapeca dormindo embaixo.
- Numa das ruas encontramos um caminhão da Becker Materiais de Construção vindo em direção contrária, com o Becker em pessoa ao Volante.
- Adrianão me levou pra conhecer o Morro da Dona Edite, maior reduto de pobreza da região, um apinhado de casas modestas encravadas num morro.Se tinha algum traficante tomando conta da entrada, o sujeito saiu pra tirar um cochilo quando passamos por lá.
- Encontramos presos do semi-aberto roçando na rua Franz Muller.
- Fomos no hotel-fazenda Sorriso, que fica no ponto final da rua Franz Muller. Lugar bacana com muitos espaços para eventos e opções em lazer como trilhas e pesque-pague, além de cabanas para pernoite.
- Encontramos máquinas da prefeitura fazendo obras em cantões longínquos, escavando bocas de lobo, limpando entulhos da última enxurrada e construindo drenagens.Não deve ser uma logística fácil.
No expectations
Fiquei impressionado com o que vi.
A Velha Grande tem muita pobreza, ruas ruins, casebres improvisados, pessoas morando dentro de matagais.
Acessos complicados, subidas íngremes onde jamais um ônibus passará.
A Velha Grande, ao contrário de outros bairros de Blumenau, não gera expectativas de futuro a seus moradores.
Não há indústrias por lá e dificilmente haverá, pois a região não se comunica com nenhuma cidade vizinha e a topografia não permite.
A Velha Grande é onde moram nossos jardineiros, nossas domésticas, motoboys e pedreiros, os chapas de caminhão e operários em geral, misturados a bandidos e traficantes que dão fama à região.
Um mundo muito à parte, escondido entre morros e ribanceiras, longe de nossos olhos e corações.
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